domingo, abril 23, 2006

"O Assassinato do Bibliotecário de Joelma" - Cont.



Essa semana mais uma publicação, um trecho vem de lambuja pelo seu tamanho, mas não menos importante na trama. fiquem ligados! Dedico esta postagem a esses dois curiosos aí em cima, saudades de vcs: Renan e Cleidoca... abração!


II

Não longe da cena do crime, como se ninguém pudesse vê-lo... (otário! Achou que podia escapar da onisciência do narrador) um vendedor de brigadeirões, rapaz assaz estrôncio, de olhos desemparelhados, ria esquisitamente como se lembrasse d’alguma piada antiga, ou d’uma memorial pegadinha do Ivo Holanda. Estava sentado numa calçada e recostado num poste, tinha seu tapeware posto ao seu lado com alguns três brigadeirões que não havia vendido até então. O que estaria fazendo ali? Vou lá saber, também não sei de tudo...

III

Na manhã desse suposto assassinato, muitas coisas saíram fora de seu eixo habitual, a começar pela roda da bicicleta de Gérson que apesar de estar sempre empenada nunca perdera o eixo até então. Conta-se também um fato de uma senhora, funcionária pública, ter chego na hora para seu expediente, o que nunca acontecera com ela em 25 anos de servidorismo. Estranhíssima essa manhã. Eram fatos e notícias dessa gravidade que a imprensa local publicava no seu tablóide “Cotidiano de Joelma” (vê-se a pasmaceira e explica-se o número reduzido de leitores). Mas graças às últimas turbulências e escândalos de órgãos públicos, em especial a polícia com seu trato autoritário e abusivo, enchera-se de suculentas matérias o jornaleco e conquistaram leitores à beça. Repórter Memo, hoje, repórter televisivo de uma emissora regional poderosa, iniciou sua carreira no CJ com uma coluna chamada “Patifarias do Comércio Joelmense” em que denunciava as velhacarias de comerciantes, os quais faziam consumidores de baixa renda trocarem mercadorias por trabalho semi-escravo. Puta denúncia! Trabalho investigativo que chamou atenção das emissoras e lhe valeu sua nova posição. Numa padariazinha, um, que chamaremos por alcunha de “Malandro”, era um desses tantos que se vê aos cantos dos balcões das padarias de todos os cantos do nosso país que se sabe insólito com um copo de pingado fumegante a assoprar. Seu pão com manteiga é preparado pela doce mocinha do balcão. Ela: - Toma seu pão... ah, deixe de ser pegajoso, Malandro... (veja aí quem lho deu o apelido, para não saíres dizendo que alcunho injustamente os desta história) Ele ao receber seu pãozinho aproveitou para acariciar as mãos da jovem. Um atentado que esse Malandro praticava todas as manhãs... mas deixemos os seus assédios para tratarmos do que viu ele próximo à padariazinha. Depois de acertar as contas, ainda ao pé do minúsculo estabelecimento assistiu a uma colisão que se deu logo ali na esquina próxima. Lembram-se da roda de Gérson fora do eixo? Ótimo se lembram. Guardem isto...

2 comentários:

Guilherme C. Grünewald disse...

Muito legal, melhor que o primeiro, a maneira que esta narrando ficou muito legal... me lembrou uns episodios do pateta em que não passava os personagens... e sim detakhes do cotidiano

Abilio disse...

Acho que o que merece ser comentado aqui é a construção do narrador. Você está fazendo experiências interessantes e importantes. No entanto, tenho algumas observações a fazer.
Nesses trechos, vemos um típico narrador intruso, que se põe a fazer comentários a torto e a direito sobre os eventos. Ok. O conto de fato pode ganhar muito no aspecto cômico com esse recurso. Não obstante, ele traz a tona uma questão: quem é esse narrador onisciente e intruso? Se ele fosse só onisciente, a pergunta perdia um pouco a relevância. Podia ser apenas uma voz narrativa onisciente e a técnica utilizada (embora caída em desuso desde as primeiras vanguardas do século XX, a partir das quais se põe em xeque definitivo uma posição de onisciencia, pois já não existe mais uma verdade única, nem um ponto de vista que seja melhor que os demais) seria a história que se narra a si própria. Sem embargo, não pode ser o caso do seu conto, pois o narrador, além de onisciente é intruso e isso inevitavelmente lhe atribui uma PERSONALIDADE. Não sei se me faço claro, mas fica difícil conciliar as duas coisas com coerência. Como o narrador pode saber tudo e ao mesmo tempo se posicionar frente a esse conhecimento com uma postura crítica. Quem é ele afinal? Um deus grego onisciente e temperamental?
Ainda falando do narrador, também encontrei incoerências do ponto de vista lingüístico. Há pontos em que o estilo frasal e a seleção lexical se elevam ou despencam sem motivo aparente. Claro que esse tipo de oscilação pode existir, mas é preciso que se deduza um motiva para isso.
Resumindo, na minha opinião, é preciso que você trabalhe o narrador, Corla. É fundamental que você saiba exatamente quem (ou o quê) ele é e porque narra as coisas da maneira como narra. A razão de ser da forma não pode ser aapenas o efeito de humor, ela tem que estar organicamente relacionada ao conteúdo.
No mais, gostei, como sempre da sua originalidade e criatividade. Gosto das imagens e das piadas. Ainda acho que você pode amadurecer quanto à forma.
Abraço!