terça-feira, fevereiro 18, 2025

Análise do poema “Eu amo a noite” de Fagundes Varela (1841-1874).

 

Análise do poema “Eu amo a noite” de Fagundes Varela (1841-1874).

Gravura de M. J. Garnier - GARNIER, M.J. Fagundes Varella. Rio de Janeiro (RJ): F.Briguiet & Cie. Editores, [189-?]. 1 des., pb. Disponível em: <http://objdigital.bn.br/objdigital2/acervo_digital/div_iconografia/icon960828/icon960828_021.jpg>. Acesso em: 3 mai. 2015., Domínio público, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=39935655

Por Rogerio Guarapiran 

[POEMA]

Eu amo a noite com seu manto escuro

De tristes goivos coroada a fronte

Amo a neblina que pairando ondeia

Sobre o fastigio de elevado monte.

 

Amo nas plantas, que na tumba crescem,

De errante briza o funeral cicio:

Porque minh’alma, como a sombra, é triste,

Porque meu seio é de illusões vazio.

 

Amo a deshoras sob um céo de chumbo,

No cemiterio de sombria serra,

O fogo-fatuo que a tremer doudeja

Das sepulturas na revolta terra.

 

Amo ao silencio do hervaçal partido

De ave nocturna o funerario pio,

Porque minh’alma, como a noite, é triste,

Porque meu seio é de illusões vazio.

 

Amo do templo, nas soberbas naves,

De tristes psalmos o troar profundo;

Amo a torrente que na rocha espuma

E vai do abysmo repousar no fundo.

 

 

Amo a tormenta, o perpassar dos ventos,

A voz da morte no fatal parcel,

Porque minh’alma só traduz tristeza,

Porque meu seio se abrevou de fel.

 

Amo o corisco que deixando a nuvem

O cedro parte da montanha, erguido,

Amo do sino, que por morto sôa,

O triste dobre n’amplidão perdido.

 

Amo na vida de miseria e lôdo,

Das desventuras o maldito sello,

Porque minh’alma se manchou de escarneos,

Porque meu seio se cobriu de gelo.

 

Amo o furor do vendaval que ruge,

Das azas negras sacudindo o estrago;

Amo as metralhas, o bulcão de fumo,

De corvo as tribus em sangrento lago.

 

Amo do nauta o doloroso grito

Em fragil prancha sôbre mar de horrores,

Porque meu seio se tornou de pedra,

Porque minh’alma descorou de dôres.

 

O céo de anil, a viração fagueira,

O lago azul que os passarinhos beijam,

A pobre choça do pastor no valle,

Chorosas flôres que ao sertão vicejam,

 

A paz, o amor, a quietação e o riso

A meus olhares não têm mais encanto,

Porque minh’alma se despiu de crenças,

E do sarcasmo se embuçou no manto.

 

 

O poema acima integra o livro “Cantos do êrmo e da cidade”(1869), último livro publicado em vida do autor, o qual encontramos compilado em no volume das Obras Completas, pela editora Saraiva (1962).

O poema é uma exaltação apaixonada à noite, ele consiste em descrições que remontam cenários estáticos com céleres eventos naturais e o tempo torna-se mórbido, dilatado e reminiscente. A voz do eu-lírico vai apresentando imagens e fenômenos naturais que se combinam com o cenário noturno e misterioso. O gênero lírico tem um tempo suspenso e uma atmosfera onde paira uma voz que canta a noite como reflexo da descrição de seu sentimento interior, podemos perceber isso pela escuridão do ambiente, os cenários rochosos e desertos, os acontecimentos tempestuosos da natureza e a presença da morte como expressão e vontade do estado de alma. Tudo representado através de referências diretas e indiretas que revela um desgosto pelo prazer que a vida serena e alegre pode causar. O eu-lírico mostra que oportunamente, na infância, viveu docemente, porém agora, é tal sua amargura que se encontra dominado e petrificado (como as rochas do cenário), por isso mergulha nos meandros da noite venerando-a como uma amante e encontrando nela sua expressão de grande metáfora do estado de alma.

O título já define a preferência pelo turno notívago que é considerado no senso comum o mais misterioso e marca uma entrega sentimental do “eu” à noite. Notável é a repetição do verbo “amar” em primeira pessoa do indicativo presente em 11 aberturas das 15 estrofes do poema e tendo por objetos diretos toda espécie de sentimentos próprios da soturnez. Em alguns exemplos: 1ª estrofe) “Eu amo a noite”, 2ª) “Amo o sinistro”, 8ª) “Amo o pavor”, 14 ª)”Amo a tristeza”. Mas, ao mesmo tempo, dentro do tema da entrega sentimental subjaz um tom explicativo, o eu-lírico, só ama tudo aquilo porque seu seio é triste (verso 19), porque sua vida é de ilusões vazia (v. 20), porque sua vida não tem mais sonhos (v. 35). A conjunção subordinada sindética explicativa “porque” marca um semitom racional em contraponto com o sentimentalismo maior do poema. A misteriosa, pavorosa e fúnebre sensações que subsiste nas vagas da noite é mostrado por referências diretas: “selo de mistério” (v. 4), “lampejos funéreos” (v. 13), “horas mortas” (v. 14), “cemitério” (v. 16), “sombras” (v. 49), “caligem” (v. 50). Também, indiretamente e de forma ostensiva pela analogia de imagens sinistras, cenários desérticos e manifestações da natureza: “desertos quedos” (v. 3), “o abutre” (v. 10), “a voz medonha do caimã disforme” (v. 11), “sombria serra” (v16), “vastos brejos” (v. 18), “tribos de corvo em sangrento lago”(v. 24), “chuvas túmidas”(v. 25), “abismos”(v. 28), “floresta virgem”(v. 52), “Águas tôrvas de ignotos rios”(v. 54), “negras rochas”(v. 55), “tufões bravios”(56). Muito importante de salientar são os contrastes estabelecidos de forma explícita e implícita, e em níveis textuais diferentes, contrastes que ressaltam a vertigem que o ambiente noturno pode aclimatar: “[a noite] bela de um horror sublime”(v. 2), “as rosas brancas desabrochando à lua” (v. 34), são estes contrastes explícitos; os implícitos aparecem de forma marcante no correr discursivo: silêncio/silvos de bala (v. 17 e 23); nos tempos e sentimentos denotados: presente desesperançoso e sombrio, e  passado alegre e iluminado; e também nas tonalidades contrastantes já citadas: sentimental e racional.

No âmbito lexiológico e sintático, o poema apresenta dificultadores de decodificação de significados e estranhezas de significantes devido aos preciosismos linguísticos românticos. No léxico encontramos arcaísmos – deleite de românticos: “soledades” (v. 29) para designar lugar ermo, “veigas” (v. 41) mesmo que várzea, “caligem” (v. 50)que é nevoeiro espesso, e o mais interessante de todos “Sendal” (v. 45) encontrado apenas em dicionário etimológico, refere-se a um tipo de tecido que encobre ou algo que oculta, que impede a visão como um nevoeiro. É conhecido seu uso n’Os Lusiadas de Camões no primeiro canto. Na sintaxe nada de hipérbatos complicadores, mas encontramos orações distendidas que carregam muitos termos e encadeiam-se por enjabaments em muitas estrofes, o que pode complicar o sentido fraseológico pela dispersão de longas sentenças em períodos compostos. Quase todas estrofes são uma única frase em que aparecem várias orações subordinadas. Note-se a estrofe 6 em que encadeiam-se três orações coordenadas assindéticas à principal: “Amo o furor do vendaval que ruge / Das asas densas sacudindo o estrago, / [1]Silvos de balas, [2]turbilhões de fumo, / [3]Tribos de corvos...”.

Da sonoridade expressiva – correspondência do som ao sentido – tiramos parcas associações, mas suficientes para demonstrar escolha consciente de sonoridades. É frequente o uso de aliterações da constritiva linguoalveolar surda e de vibrantes velares e linguoalveolares sonoras para remontar a ideia de sussurros e ruídos temerificantes típicos de uma paisagem sonora de noite assombrosa. Observamos isso em versos como (v.50):

 

Amo o (S)ini(S)tro (R)amalha(R) dos (C)edros

          

 Através do qual percebe-se pela sibilação das duas primeiras consoantes surdas a passagem do vento fazendo sussurrar os ramos e a vibração da consoante marca o efeito desse vento que passou pelos cedros. Causa e efeito demonstrado pelo uso de pares opositores surdo/sonoro, constritiva/vibrante.

O poema se organiza em 15 estrofes de 4 versos cada, e tem como esquema rítmico uma curiosa estrutura: rima no nos segundos e quartos versos de cada estrofe. O esquema métrico é de importância na construção do sentido, a saber: o estado de noite infindo, infinito e absoluto que em que se encontra o eu-lírico afirmando e reafirmando seu amor pela noite e clamando pelo descanso que a morte pode dar é ajudado pela constância de metrificação. A regularidade rítmica dos versos mostra-nos decassílabos sáficos onde encontramos os acentos tônicos, na métrica silábica, nos segmentos 4 – 8 – 10. Veja exemplos:

 

(v. 1) Eu – a – mo_a – NOI – te – quan – do – DEI – xa_os – MON – (tes),

            1    2       3         4       5         6       7      8           9           10

(V. 17) A – mo_o – si – LÊN - cio,_os – a – re – AIS – ex –  TEN– (sos),

             1        2        3       4          5         6     7        8        9      10

E.R. 10  (4-8-10)

 

 Decassílabo sáfico é pertencente ou relativo ao modo de composição de Safo, poetisa grega (séc. VII a VI a.C.); diz-se do verso com acento na 4ª, 8ª e 10ª sílabas no decassílabo. Seu uso mais difundido em língua portuguesa é n’Os Lusíadas de Camões. Também no romantismo é um recurso usado largamente. A função expressiva do metro marcado serve para ampliar as visões da noite e preservar a unidade do tema reinante e totalitário pelo qual é tomado o “eu”. Esse reforçamento rítmico é elucidativo do sentido circular que toma forma no poema. O ponto onde ele começa é o mesmo ponto onde termina. O caráter estático, salvo alguns instantes de relâmpagos é característica de estilo da época, assim como o apelo à natureza para expressar melancolias, tristezas, desespero, vaguidão, etc. Assim, diz Bosi, comentando o Romantismo temático: “o mundo natural encarna as pressões anímicas. E na poesia ecoam o tumulto do mar, o ímpeto do vento e a fixidez do céu, o terror do abismo e serenidade do monte.[1]

Interessa também comparar o poema com outro texto de sua época: “Noite” de Gonçalves Dias, que começa no mesmo tom: “Eu amo a noite solitária e muda”. Em Noite existe uma rede de metaforizações que confere ao poema uma aura fantasmagórica e mística profana. O poeta compara a fascinação da noite com a imagem de “formosa dona em régios paços, / Trajando ao mesmo tempo luto e galas / Majestosa e sentida;” e trabalha essa imagem de mulher nos seus detalhes. No ritmo, ele se apresenta mais irregular, seu aspecto formal forte é a métrica variando em decassílabos e sextinas o que confere andamento quebrante e solavancos que dá impressão de sustos contínuos na leitura. O tom é noturno e moralista, mas há uma ênfase forte nos aspectos da religião, tomando a noite como hora propícia à veneração, pois é a hora do silêncio, do contato direto com a natureza : “Calada a natureza, a terra, e os homens, / Subir as orações aos pés do Eterno / Para afagar-lhe o trono”. Sem dúvida, “Eu amo a noite” de Varela tem interlocução com o poema de Gonçalves, mas preserva mais a força rítmica e compõe cenários ainda mais assustadores. Varela consegue construir um móbile mais fluido na leitura e consegue intensificar a sensação de sofrimento irremediável do eu-lírico. O mais marcante desse confronto é que, enquanto Gonçalves Dias traz uma exaltação positiva da noite no sentido espiritual, elevando a noite à plenitude, Fagundes Varela prefere uma exaltação negativa, o sentimento de  destruição, de sentimento vertiginoso que conduz ao desejo da morte.

Fagundes Varela foi em si sua própria época, foi um romântico autêntico, filiando-se sem pejo ao mais puro byronismo sombrio e ultrarromântico, expresso no desejo da morte e ostentação da vida boêmia, aspectos mais latentes de sua obra. Também é forte a influência aos românticos nacionais precedentes a ele como Gonçalves Dias, Casemiro de Abreu e principalmente Álvarez de Azevedo, o qual continua a sinuosa aventura dos sofrimentos sombrios do pessimismo e desejo da morte. O poeta que foi na década de 1860 o mais lido, numa lacuna temporal entre Álvarez de Azevedo ultrarromântico e Castro Alves condoreiro, ele apresenta “decalques”, no dizer de Bosi, tanto da 1ª quanto da 2ª geração de românticos e também acompanha a virada na vida política engrossando a fileira dos descontentes com o IIº Império. Também comenta o crítico e historiador José Veríssimo que ele “deixa-nos a impressão do já lido”[2]. Na sua biografia registra vida boêmia, o alcoolismo, aventuras românticas com mulheres, sofrimentos e amarguras profundas, vida errante de um bom vivant que viveu entre a cáustica cidade e o bucólico campo. Deixou obra extensa para um escritor que morreu aos 33 anos.

O poema é a própria noite romântica típica, a noite de uma geração que nela se deleitou em amores, veneração, angústia e sofrimentos. Fagundes Varela apresenta o pisado e batido cenário romântico de maneira vigorosa e como representação do descanso dos tormentos da vida. Contém doses de clichês emblemáticos de sua época e uma síntese das leituras de sua época, tratado com pessoalíssimo profundo e originalidade. Representa mais de uma geração e não é menos que as obras que representa, tem sua força própria num ritmo marcante que consegue montar uma atmosfera sinistra e fúnebre.



[1] BOSI, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira. Cultrix: São Paulo, 40ªed. 1994. p. 94.

[2] História da Literatura Brasileira. José Olympio: São Paulo, 3ª ed., 1954  , p. 280.

sexta-feira, janeiro 03, 2025

Salvar o Fogo de Itamar Vieira Junior.

 


Por Rogério Guarapiran

O tema dos indivíduos contra a sociedade se impõe como grande tema. Três personagens se destacam na narrativa de uma família de pessoas descendentes de indígenas e afro diaspóricos, o Menino Moisés, Luzia do Paraguaçu e Maria Cabloca. O cenário é a Tapera, uma comunidade no interior sul do Estado da Bahia, uma comunidade rural e ribeirinha à beira do rio Paraguaçu que é dominada por um mosteiro de religiosos católicos. A Tapera é uma personagem que assume desde o início um antagonismo opressor e através do qual se desencadeia o recorte do drama a ser encarado pelas personagens, pois são dois os motivos que desencadeiam os pontos de conflito. Um é a partir da mácula coletiva que atinge Luzia, na sua passagem da infância para a vida de menina-mulher, e o outro, é a violência sofrida pelo Menino no interior do mosteiro, quando ainda era criança.   

Os pontos de vista da narrativa são diversificados e experimentais, dois personagens em primeira pessoa, o Menino narra e conduz a primeira parte: A vingança Tupinambá e a segunda parte fica ao cargo da Luzia do Paraguaçu (mesmo nome do subtítulo do capítulo). Ambos narram um trecho de suas vidas, mesclando memórias particulares com memórias de familiares próximos e antepassados distantes, num estilo de realismo psicológico e fantástico que tenta simular a limitação do indivíduo de entender a si mesmo e os outros, mas representando a contradição de uma personagem complexa e inconsciente,  mesmo quando o leitor coloca em suspeita a capacidade elaboração sintática e argumentativa das personagens, estranhando algumas construções linguísticas demasiadas “sociológicas” para o contexto. O limite do nosso pré-conceito e pré-julgamento sobre o que uma personagem de origem simples, analfabeta ou de baixa cultura letrada pode pensar, elaborar, agir e sentir é todo o tempo confrontado com a ousadia de Itamar de seguir com o realismo quase mágico, fantástico e ancestral sobre figuras que historicamente foram excluídas e silenciadas e até pouco tempo eram impensadas como protagonistas de um romance. Já o prólogo e metade final da narrativa foram escrito em terceira pessoa, é o narrador onisciente, com mais recurso linguístico e sociológico que assume a condução, mas absorve a simplicidade e agudeza das personagens, o autor-narrador entrelaça a trama em aberto pelas duas personagens jogando com tempos do presente e passado, lançando visões míticas e ancestrais que apenas são intuídas pelos personagens, e principalmente organizando a raiva dos protagonistas “despossuídos” contra as injustiças e violências dos “donos de tudo”.  

O livro tem um estilo de escrita direto, com frases curtas, palavras de fácil decifração – são poucas as vezes a que se recorre ao dicionário. O autor utiliza o dialeto popular da região sul da Bahia de forma estratégica para dar uma cor local, sem preciosismo e hermetismo linguístico. De forma bem pensada e dosada adota uma preocupação com linguagem popular colocando alguns degraus de análise social, antropologia, poesia e academicismo. Essa qualidade de misturar vozes e profundidades de visões faz prender o interesse do leitor, que é surpreendido com cenas fortes de vários tipos: violência física e sexual, violência simbólica e racismo, até a mais banal ida ao banheiro se torna um ato de literário importante na trajetória da personagem. A família tronco da história é uma síntese das tensões sociais pela ocupação da terra, tensões raciais e religiosas no Brasil. Eis alguns exemplos: os filhos, assim como o pai, muito cedo migram para outras regiões em busca de sobrevivência. A mãe tenta introjetar nas filhas o seu desejo de embranquecer as gerações, e a avó, que era índia, transmitiu os últimos segredos dos encantados da mata, mas esses conhecimentos tem que ser abafado pela intensa vigilância católica do local. Em todo romance há uma ênfase nas sensações corpóreas das personagens, um entendimento tácito da vida, sentido na transformação da passagem do tempo, na memória do corpo, na deformidade, no gestual rude e sem afeto, na violência, enfim, tudo que que se refere aos corpos, à terra e ao meio ambiente é muito eloquente. O fogo é a simbologia central, é uma ligação com a sociedade indígena Tupinambá que são os nativos daquela região empobrecida pelo colonialismo. Luzia está espiritualmente ligada ao poder do fogo, é uma chama ambulante e ao mesmo tempo uma ameaça para o povo da Tapera. Juntamente com o rio Paraguaçu que se torna a metáfora da vida com a cena do parto inicial, o fogo liga todos os acontecimentos trazendo a morte e renovação. 

Minha impressão final, que está longe de esgotar as possibilidades do livro, é que Itamar combina a forma de contista em capítulos breves e dinâmicos com uma narrativa fluida que conecta acontecimentos através de triangulações de pontos de vista, uma situação importante tem mais de um olhar se detendo e devolvendo isso em forma de conflito interno e externo. O dialogismo entre as personagens é menos interessante do que a polifonia que trazem em si ao vivenciar a corrente dos acontecimentos. A força do livro reside nos pontos de vistas e subjetividades inusuais e humildes, que historicamente aprendemos a relegar à figuração, ao segundo plano, ao servilismo, mas que na obra se tornam atores e mestres do próprio destino, sem tornar fácil ou ilusório o caminho da luta diária pela sobrevivência.