domingo, dezembro 10, 2006

Por que fiz um soneto?



Porque fiz um soneto achei-me feliz,
O mais importante dos seres da terra,
Inputei a mim mesmo uma soberba.

Porque fiz um soneto sai saltitante entre a massa multiforme do povo,
Pude chutar, no traseiro, um cachorro
Sem sentir eu dor alguma.

Porque fiz um soneto tripudiei dos meus amigos de pé quebrado,
Alguns nem ligaram, outros revoltaram-se,
Deram-me com uma garrafa de cachaça na cabeça..

Por que fiz um soneto?

... Tropiquei por conta da bordoada,
Andei trôpego as ruas da minha triste cidade,
Dava-me com postes e vidraças transparentes.

Porque fiz um soneto deixei de fazer muita coisa, mas fiz um soneto!
Que não é lá grande coisa,
Mas pode me servir um dia... quem sabe... acho nunca.

Por que fiz um soneto cri-me... cri-me embebido em fontes míticas,
Visitado por ninfas, sabedor da razão humana
Quando, na verdade, nem entendo a razão de se fazer um soneto

Por que fiz um soneto?

Para que toda mulher me amasse?
Para que em livro me editassem?
E fosse tido como o poetinha de uma classe?

Por que fiz um soneto saí distraído, não vi logo o primeiro carro
Que fez o favor de me estraçalhar em bons pedaços,
Depois outros fizeram o poeta espatifado, patife que era!

Por que fiz um soneto? ... virei pastiche!